Semicírculo de Skoda – Técnica semiológica de exame do abdome. Com o paciente em decúbito dorsal, se houver ascite o líquido tende a se alojar na parte inferior do abdome e nos flancos. A percussão delimita uma área semicircular pela variação sonora do timpanismo à macicez.

O epônimo deve-se ao Joseph Skoda (1805-1881), nascido em Pilsen, na Bohemia (hoje na República Tcheca). Formado em 1831 na Universidade de Viena onde foi professor, Skoda é um dos grandes revolucionários da medicina. Sua contribuição para as técnicas semiológicas, especialmente na percussão e ausculta são notáveis. A técnica da percussão e sua aplicação na medicina já havia sido proposta muitos anos antes por Leopold Auenbrugger, mas estava quase esquecida e Skoda não só a revitalizou como fez ampla correlação dos sons obtidos com a percussão com alterações patológicas dos órgãos toráxicos e abdominais.

Ele teve também a genialidade de inter-relacionar os diversos procedimentos clínicos já conhecidos na sua época, como interrogatório, inspeção, palpação, percussão e ausculta, para se chegar ao diagnóstico. Foi portanto, em meados do século XIX,  um dos principais responsáveis pela criação do método clínico, que em essência é utilizado até hoje. Sua obra Tratado sobre a percussão e ausculta, publicado em 1839 é considerada uma das bases do pensamento clínico moderno.

Em 1866 o importante Duque de Blacas, sentindo-se mal, recebeu de três grandes médicos vienenses o diagnóstico de doença hepática com a recomendação de uma viagem para repouso. Como seu médico particular não concordasse, Skoda foi chamado. Utilizando as técnicas da percussão e ausculta ele disse que o paciente era portador de aneurisma da aorta abdominal e prognosticou a morte em pouco tempo. Isso de fato aconteceu e a autópsia confirmou o diagnóstico clínico. Antes da autópsia, utilizando a percussão, Skoda delimitou o exato tamanho e a localização do aneurisma.

Joseph Skoda foi brilhante diagnosticador, mas era descrente das possibilidades de tratamento. Ele e seus seguidores eram partidários do que se convencionou chamar de nihilismo terapêutico. Pelo seu ceticismo em relação à utilidade dos principais métodos de tratamento vigentes, como as sangrias, eméticos, sudoríficos e dos medicamentos disponíveis, afirmava que “o melhor em medicina é não fazer nada”.

Referências

1. Skoda, J. Tratado de percusión y auscultación. [trad.] traduzido da 4ª edição de “Abhandlung über die Perkussion und Auskultation”. Madrid : Carlos Baylli-Bailliere, 1856.
2. Editorial. Joseph Skoda (1805-1881)— Physical Diagnostician. JAMA. 1964;190(3):240. 
3. Major, RH. Classic Descriptions of Disease. Illinois : Charles C Thomas, 1965.
4. Fejfar, H. Hlavakova, L. Joseph Skoda. Clin. Cardiol. 20, 740-741 (1997).
5. Sakula, A. Joseph Skoda 1805-81: A centenary tribute to a pioneer of thoracic medicine. Thorax. 36(6):404-411, 1981.