Epônimos em medicina – Eustáquio e Falópio

210416

Bartholomeo Eustachio

Em medicina, os epônimos[i]foram amplamente utilizados para designar doenças como a Doença de Chagas, Mal de Hansen, Doença de Cushing, para designar sinais e sintomas como o sinal de Babinski, o sinal de Nikolsky, para nomear estruturas anatômicas a exemplo de trompa de Falópio, trompa de Eustáquio, divertículo de Meckel, esfíncter de Oddi. A utilização de epônimos tem importância histórica na medida em que homenageiam os descobridores das doenças ou quem primeiro descreveu determinada estrutura ou observou certos sinais e sintomas característicos de alguma síndrome ou doença. A imprecisão, utilização de mais de um nome para designar a mesma coisa, fazem com que a tendência atual seja a de substituir os epônimos por designações mais objetivas.

É frequente a confusão de Eustáquio com Falópio. Que trompa é de um e que trompa é de outro? Se utilizarmos apenas tuba auditiva ou tuba uterina, a designação será mais precisa, mas a utilização dos epônimos nos permite ao menos uma reflexão histórica. Pode ser interessante saber um pouco da vida de Eustáquio e Falópio.

O Tabulae anatomicae
Quem descreveu o canal que liga o ouvido médio à faringe foi Bartolomeo Eustachio, um importante anatomista romano que viveu no século XVI, entre 1520 e 1574. Suas observações foram publicadas no livro Tabulae Anatomicaeem 1552 em que são descritas e ilustradas minuciosamente diversas estruturas anatômicas. Apenas 8 placas com os desenhos que produziu foram publicados na época. Em 1714, o médico Lancisi encontrou na Biblioteca do Vaticano outras 39 pranchas com desenhos da obra de Eustáquio publicou nova edição do livro.

Na verdade, embora baseasse suas observações em dissecações, Eustachio era um ferrenho defensor da anatomia galênica, que havia sido severamente abalada por Vesalius com a publicação do livro De Humanis Corporis Fabrica em 1543.

Ao contrário de Bartholomeo Eustachio, seu contemporâneo Gabrielle Fallopio (1523-1562) era opositor das ideias anatômicas de Galeno e é considerado um dos fundadores da moderna anatomia. Foi respeitado professor das Faculdades de Pádua e Ferrara. Fallopio, além da identificação das tubas uterinas às quais teve o nome associado, descreveu várias outras estruturas anatômicas, como o seio esfenoidal, o nervo chorda tympani, o canal por onde passa o nervo facial após deixar o meato acústico, que também foi conhecido como Canal de Falópio.

Gabrielle Fallopio


Foi Falópio também quem primeiro utilizou a denominação vagina para o órgão do aparelho genital feminino, que até então não tinha um nome técnico. A palavra vagina, no latim, tinha o significado de bainha, estojo e deve ter sido com essa conotação da função sexual que ele cunhou o termo.

Gabrielle Fallopio foi um dos principais médicos a tentar enfrentar a sífilis, que surgiu na Europa exatamente nos últimos anos do século XV. Dentre os remédios que utilizou, havia um bastante peculiar, que consistia em um pedaço de pano contendo uma mistura dos seguintes ingredientes: vinho, raspas de guáiaco, flocos de cobre, mercúrio precipitado, raiz de genciana, corais vermelhos, cinzas de marfim, chifre queimado de veado. Esse preparado deveria ser colocado sobre a glande logo após o ato sexual e ali permanecer por quatro ou cinco horas. Disse que usou isso em milhares de homens e chegou a jurar por Deus Todo-Poderoso que não houve nenhuma falha.



[i]O dicionário online Michaelis define epônimo como :
adj (gr epónymos) 1 Que dá ou empresta o seu nome a alguma coisa. 2 Que recebeu o nome de uma pessoa: Doença epônima. Var: eponímico. sm 1 Nome de um personagem mítico ou histórico do qual se derivou ou supõe-se ter sido derivado o nome de um país ou povo: Ítalo, Rômulo, Bruto, Bolívar são epônimos de Itália, Roma, Britânia, Bolívia. 2 Nome próprio ou comum, que se deu a alguma coisa ou do qual se derivou o nome de alguma: zepelim, abreugrafia. 3 Nome formado de uma pessoa ou que o inclui: Doença de Chagas.


Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem 5 comentários

  1. Robertinho

    Eu entendi, Neto. Só estava brincando com o Fallopio….rsrsrsrs….Abarços

  2. Pois é, Roberto. Obrigado pelo sua atenção com o blog. Esse remédio era um preparado que se colocava num pano e usado após as relações sexuais envolvendo o pênis. Falópio quis dizer que todos os que usaram seu remédio não contraíram o mal francês (a sífilis). Alguns historiadores colocam esse tratamento como um dos precursores do preservativo, o que não se aplica, pois era colocado depois do ato sexual. Quanto aos epônimos eu acho uma boa forma de estudar história da medicina. O exame de Papanicolau, um exame simples e eficiente na prevenção do câncer de colo uterino,que foi idealizado pelo médico grego Georgios Papanicolau, falecido em 1962.

  3. Robertinho

    Neto, a afirmação do Fallopio que "usou seu unguento (ou remédio) em milhares de homens e não houve nenhuma falha" é, no mínimo, estranha, né? A que falha ele se referia? Falha do remédio ou dos homens???….rsrsrsrs….
    Mas tirando a brincadeira, muito legal essas histórias dos epônimos. Um do qual me lembro e que salva milhares de mulheres anualmente ( e milhões desde os anos 1950) é o do Exame Papanicolau, né?
    Um abraço.

  4. Neto Geraldes

    Obrigado, Luis. Vou postar outros estudos sobre epônimos. abraço

  5. Luís Alfredo

    Muito legal essa história desses epônimos, assim oomo deve ter outras bem interessantes. E assim a gente faz adquirindo cada vez mais cultura com este seu blog.
    Um abraço.
    Luís Alfredo

Deixe seu comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.