Aspirina

Os antigos egípcios, há 3000 anos, sabiam que nas folhas e na casca do salgueiro branco existia alguma coisa capaz de aliviar dores e febres. No século V antes de Cristo, Hipócrates ou quem sua figura represente, também sabia disso. Dioscorides no primeiro século da era cristã e os índios norte americanos também usavam a casca do salgueiro para diminuir a dor e a febre.

O princípio ativo da substância encontrada no Salix alba, o salgueiro branco, e em outras plantas como a ulmária, (Spirea ulmaria), também conhecida como rainha dos prados ou barba de bode, foi descoberto em 1829 pelo farmacêutico francês Henri Leroux e foi chamado de salicina. Mais tarde, em 1838, o italiano Rafaele Piria, com reações químicas obteve o ácido salicílico da salicina. Os salicilatos, medicamentos desenvolvidos a partir do ácido salicílico, como o salicilato de sódio mostraram utilidade no tratamento da febre reumática, no tratamento da gota, por aumentarem a excreção urinária de ácido úrico. Todavia seus efeitos colaterais limitavam seu uso.  

O salgueiro (Salix alba) Chorão e Spiraea ulmaria (Filipendula ulmaria) Wikimedia

O francês Charles Frederic Gerhardt foi quem produziu quimicamente o ácido acetil salicílico pela primeira vez em 1853. Foi somente em 1897, entretanto que finalmente foi percebido o seu potencial terapêutico, quando o químico alemão Felix Hoffmann pesquisava um medicamento para o tratamento de seu pai, reumático, que não tivesse os efeitos colaterais dos salicilatos até então usados. Hoffmann teria conseguido purificar o ácido acetil salicílico, cujo efeito analgésico e antipirético foi constatado com a colaboração de Heinrich Dreser, farmacêutico, que, como Gerhardt trabalhavam na fábrica de corantes de Friedrich Bayer. A história pode não ter sido bem essa. O químico Arthur Eichengrün reivindicou seu papel na descoberta, apontando que as pesquisas iniciais sobre o AAS foram feitas sob sua direção, o que é corroborado por documentação da época. A história oficial apresentando apenas o papel de Hoffman e Dreser no desenvolvimento do A.A.S foi apresentada apenas em 1934. O papel de Eichengrün pode ter sido apagado por ser judeu.

A Bayer era a princípio uma fábrica de corantes e somente começou a se interessar por medicamentos na última década do século XIX. A descoberta do ácido acetilsalicílico mudou tudo. Em 1899 a Bayer patenteou a substância com o nome de Aspirin (A de acetil, SPIR de spirea, a planta de onde foi extraído a salicina) e logo se transformou num sucesso. Enfim havia um medicamento capaz de aliviar dores e febre de fácil uso sem o desconforto causado pelos medicamentos até então usados. Nessa época, a Bayer mandou um livreto sobre o medicamento para milhares de médicos, propagandeando a nova droga, o que influenciou sua aceitação e serviu de base para divulgação de futuros medicamentos.

bayer-aspirin

A aspirina é um medicamento revolucionário. Revolucionou o tratamento da dor, das doenças reumáticas e ao mesmo tempo revolucionou a pesquisa química, a produção de medicamentos, a propaganda dos medicamentos e o lucro.

Aspirin

Inicialmente, as farmácias vendiam a aspirina na apresentação em pó, dispensada em papelotes de 1g até que a Bayer teve a ideia de padronizar sua distribuição por meio de comprimidos de 500 mg. O sucesso das vendas dos comprimidos transformou a Bayer num gigante industrial e revolucionou a indústria químico-farmacêutica. A aspirina já tem mais de cem anos e a cada ano cerca de 60 bilhões de comprimidos são vendidos no mundo todo, perto de 50 milhões de americanos utilizam-na para prevenção de doenças cardiovasculares. No Brasil numerosas marcas comercializam o ácido acetil salicílico, com maciça propaganda nos meios de comunicação, estimulando seu uso indiscriminado.

Deve ser sempre lembrado que o ácido acetilsalicílico é um medicamento eficiente, porém sujeito a provocar efeitos colaterais, às vezes graves, especialmente no aparelho digestivo. Seu uso necessita de orientação médica.

Referências

1. Vaughan J.G., Judd P.A. The Oxford Book of Health Foods. Oxford : Oxford University Press, 2003.
2. Mackowiak, Philip A. Brief History of Antipyretic Therapy. Clinical Infectious Diseases. 2000, Vols. Volume 31, Issue Supplement p S154-S156.
3. Goodman, Louis S. , Gilman, Alfred. As bases farmacológicas da terapêutica. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 1973.
4. Rivera, Marco Antonio González. La Aspirina. Revista Medica de la Universidade Veracruzana. 2, 2002, Vol. 2.
5. Rinsema, This J. One Hundred Years of Aspirin. Medical History. 1999, Vols. 43, p 502-507.
6. Sneader, Walter. The discovery of aspirin: a reappraisal. British Medical Journal. 2000 December 23; 321(7276): 1591–1594.
7. Wassung, Keith. Aspirin: Helpful or Hazardous? [Online

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

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