O pintor holandês Jan Steen (c.1626-1679), contemporâneo de Rembrant, deixou vários quadros relacionados à medicina especialmente os do tipo “visita do médico”. Nessas pinturas, com um humor peculiar, ele recorrentemente retrata uma jovem sofrendo por amor (ou grávida) e um médico examinando o seu pulso. Por meio do exame da pulsação o médico podia fazer o diagnóstico do mal de amor, quando identificava o pulsus amatorius. No livro The Anatomy of Melancholy de 1621, o autor Robert Burton esclarece que a donzela apaixonada apresenta alterações características da pulsação (o tal pulsus amatorius), suspira, desfalece, tem o coração na boca. No exame do pulso o médico verifica que ele se altera ao ser pronunciado o nome da pessoa amada ou à sua presença.
Algumas alegorias presentes na pintura acima sugerem a natureza do mal que aflige a jovem: a criança no chão brincando com setas pode representar Cupido. No quadro na parede ao fundo há uma cena erótica, provavelmente Venus.
Examinando o pulso da donzela doente de amor, ou grávida, ou as duas coisas. O Cupido sobre a porta esclarece o diagnóstico, o aquecedor de cama (outra representação frequente nos quadros de Steen) no canto inferior esquerdo parece sugerir a causa da doença ou o tratamento.
Steen sempre coloca nesses quadros um recipiente com brasas, alguns deles com uma fita. Uma das explicações para a fita é sua utilização como um primitivo teste de gravidez, que seria usado principalmente pelos charlatães. A fita era mergulhada num frasco com a urina da moça e em seguida queimada no recipiente. Se a jovem tivesse náuseas com o cheiro ou desmaiasse, provavelmente estaria grávida.
Outra pintura sobre o mesmo tema, bem alegórica. O médico (ou o charlatão) examina o pulso da donzela que deve ter-se alterado pela presença do amado, aflito, à porta. O vaso com a fita, a presença da figura sorridente segurando um arenque e duas cebolas (símbolo fálico?), parece insinuar a gravidez.
Referências
1. Burton, R. (1621). The anatomy of melancholy.London.
2. Dekker, R. (2001). Humour in Dutch Culture of the Golden Age.
3. Lippi D, M. G. (vol 8 de 2016). The pulsilogium and the diagnosis of love sickness. Hektoen International Journal.
4. Sutton PC, B. M. (1982). The life and art of Jan Steen. Philadelphia Museum of Art Bulletin.