No último quarto do século XIX, entre 1879 e 1888, circulou no Rio de Janeiro, o jornal ilustrado A Mai de Familia, uma publicação destinada a aconselhar e educar as mulheres para que bem se desincumbissem de suas funções como mãe, então sua principal razão de existir. Era editada pelo médico Carlos Antonio de Paula Costa, também seu principal redator e teve boa aceitação, o que pode ser evidenciado pelo longo tempo de circulação. Grande parte do seu conteúdo era composto por assuntos relacionados à medicina. Sua leitura nos dá a oportunidade de refletir sobre o pensamento médico daquela época e também sobre alguns conceitos populares que ainda persistem.
Já no segundo número da A Mãi de Família, o Dr. Carlos Costa tratava da constipação intestinal das crianças, “uma das enfermidades mais communs na infância, desde os primeiros dias de vida” e dependia de várias causas: 1º a seccura dos intestinos (insufficiencia do muco intestinal) (…) devido a moléstias febris, 2º (…)alimentos inconvenientes quer em relação à idade das crianças, quer em relação à sua própria natureza, 3º diversas moléstias como meningite, tisica mesentérica, dando logar a paralysias intestinaes etc e 4º estreitamento dos intestinos, hérnias, (quebraduras), e outras doenças obstrutivas.
Com a recomendação da importância da intervenção do médico, o Dr. Costa dizia que na maioria das vezes o tratamento era mais higiênico que medicamentoso, quando não houvesse, claro, doenças causadoras, mas entre essas medicinas ditas higiênicas estava a utilização sistemática de substâncias laxativas, que hoje sabemos ser equivocada.
Recomendava ele que as crianças, desde o berço “precisam ter horas regulares de alimentação, para que também as evacuações sejam regulares.” As mães deveriam prestar atenção nos horários habituais das dejeções, para que pudessem ser providenciadas se não ocorressem. As crianças, por manha, maus hábitos, negligência de mães e criadas, tendiam a reter fezes, que ficam endurecidas, acumuladas e podem causar sérias doenças, “até convulsões se tem observado”. Por isso, era conveniente obrigar as crianças a evacuarem. “ O medicamento mais proveitoso, para ser empregado diariamente, é o rhuibarbo”. Quanto a isso, o Dr. Carlos Costa nada tinha a acrescentar à fórmula do farmacêutico Mello Oliveira, que havia sido apresentada no primeiro número de A mãi de família e que reproduzimos abaixo.
Nesse tipo de orientação, percebe-se que ainda fazia parte do pensamento médico naquele final de século XIX os fundamentos da teoria hipocrática do equilíbrio dos humores, daí a necessidade, mesmo para crianças recém-nascidas, da expulsão forçada dos excrementos, que retidos, provocariam acúmulo de humores nocivos, causadores de doenças.
Lembrando para os não que não são da área de saúde, que as orientações encontradas no texto tem caráter exclusivamente histórico e esse tipo de medicamento não deve ser utilizado.
Rui, nesse mesmo periódico, a Mai de Familia, o Dr. Carlos Costa em vários números se ocupa do tema da amamentação especialmente recomendando que todas as mães deveriam amamentar e não recorrer a amas de leite. Como causa de constipação ele cita a indigestão das crianças que mamam demais, ou que comem alimentos incompatíveis com seus "tenros intestinos".
Obrigado pela dica, vou tentar preparar um post sobre a amamentação naquela época.
Neto, interessante notar a falta de referência ao aleitamento materno. Para o período da publicação os recém-nascidos eram amamentados pelas mães ou amas de leite.