As festas comemorativas de São Cosme e Damião, os santos gêmeos são muito antigas no Brasil certamente desde o século XVI e acontecem nos dias 26 ou 27 de setembro e o culto a eles é muito antigo na Igreja Católica. Foram canonizados pelo papa Felix IV no ano 630. Cosme e Damião eram árabes, nascidos por volta do ano 260 na Egeia na Ásia Menor e filhos de pais cristãos. Atuaram como médicos na Egeia e gozaram de grande reputação pelo saber e pela caridade. Eram médicos anargiros, ou seja, nunca aceitavam pagamento por suas curas e tratamentos. A eles é atribuída a frase: “nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder”. Conta uma lenda também que certa feita, um doente humilde, extremamente agradecido, levou a um dos santos uma singela oferenda em agradecimento ao tratamento recebido. Eram três ovos, que o médico, constrangido, aceitou. Isso causou profunda tristeza no seu irmão gêmeo, que interpretou que ele tinha recebido pagamento pelo tratamento.
Diz a tradição, que quando o imperador romano Diocleciano começou a Grande Perseguição aos cristãos, Cosme e Damião foram presos na Egeia pelo governador Lisias. Recusaram-se a renegar o cristianismo e foram torturados com flechas, pedras e até crucificação, mas milagrosamente não sofreram ferimentos. Lisias ordenou então a decapitação dos santos médicos, o que teria ocorrido no dia 27 de setembro de 287, embora algumas fontes indiquem o ano de 303 d.C. Seus irmãos Antimos, Leoncio e Euprepio foram martirizados com eles.
Cosme e Damião tornaram-se padroeiros de várias profissões relacionadas à saúde e são cultuados desde os primeiros tempos do cristianismo. No século IV foram construídas igrejas dedicadas a eles no Egito, Jerusalém e Mesopotâmia. No século VI d.C., o imperador Justiniano, acreditando ter sido curado de uma doença grave com a ajuda dos santos gêmeos, mandou restaurar a cidade de Ciro na Siria, onde seus restos mortais haviam sido sepultados.
A intervenção médica mais famosa dos santos gêmeos é relatada por uma lenda, imortalizada por Fra Angelico* em um de seus quadros. A lenda conta que São Cosme e Damião em certa ocasião, atenderam a um religioso enfermo com a perna gangrenada e fizeram, com sucesso, a amputação do membro e transplantaram a perna de de um etíope que já tinha sido sepultado anteriormente.
No sincretismo religioso brasileiro, o candomblé e a umbanda assimilaram os santos católicos e os reinterpretaram como os orixás Ibejis, filhos gêmeos de Iansã e Xangô.
A tradição da distribuição de doces às crianças no dia de Cosme e Damião guarda relação com oferendas aos orixás, ou do ponto de vista católico, como pagamento de promessas feitas aos santos. Ainda hoje, muitas “simpatias” populares são feitas, pedindo a ajuda dos médicos gêmeos.
*Fra Angélico (Guido di Pietro Trosini) viveu entre 1387 e 1455. Frei católico e notável artista renascentista, foi beatificado por João Paulo II em 1982.
Muito bom Neto. Sempre é bom viajar no tempo.
Beleza, Neto! Interessante nessa parte do Sincretismo!
Faço minhas as palavras do Elizeuzinho. Apenas discordo do: “velho medico”. Abraço
Ótimo como sempre Neto. Abraços
Muito bom Neto! Escrita leve com conteúdo. Abraço.