No final do século XIX e começo do século XX, a medicina sofreu uma grande transformação e certamente William Osler foi um dos protagonistas dessa revolução do conhecimento. Não sem razão, alguns historiadores o consideram como o “pai da medicina moderna”. Canadense, nascido em 1849, formou-se pela Universidade de Montreal em 1872 e em 1884 deixou o Canadá para se tornar professor de medicina clínica da Universidade da Pensilvania, nos Estados Unidos. Em 1889, aos 40 anos de idade, tornou-se o chefe médico do recém fundado John Hopkins Hospital e um dos criadores da famosa faculdade de medicina do hospital. Ali, Osler juntamente com outros professores, o cirurgião Willian Halsted, o patologista William Welch e o ginecologista Howard Kelly formaram o grupo que ficou conhecido como “Os quatro grandes” da medicina. Em 1905 Osler mudou-se para a Inglaterra, onde foi professor régio em Oxford.
William Osler notabilizou-se pelo carisma, conhecimento, entusiasmo, capacidade de observação, trabalho duro, método, disciplina. Seus biógrafos acrescentam a compaixão e respeito com os pacientes como traços de sua personalidade. Talvez sua maior contribuição tenha sido no ensino da medicina. Foi ele quem concebeu e desenvolveu a instituição da residência médica.
Seus seguidores e biógrafos recolheram numerosos aforismos, máximas e conceitos nos seus escritos e nos ensinamentos do dia a dia, alguns dos quais reproduzidos abaixo.
“O médico precisa de uma cabeça com lucidez e de um coração com compaixão.”
“Como disse Galeno, a confiança e a esperança curam mais que os medicamentos. O que cura mais é o que inspira mais confiança.”
“Uma grande universidade tem uma dupla função: ensinar e pensar.”
“O desafio do médico é a cura das enfermidades, a educação do povo nas leis da saúde e a prevenção das epidemias.”
“O futuro pertence à Ciência. Mais e mais ela controlará os destinos das nações. Ela já os tem em seu cadinho e em sua balança.”
“O tratamento do paciente é o elemento mais importante no tratamento da doença. O paciente, e não a doença, é a entidade.”
“No que pode chamar-se o método natural do ensino, o estudante começa com o paciente, continua com o paciente e termina seus estudos com o paciente, utilizando livros e aulas teóricas como ferramentas, como meios para um fim.”
“O bom médico trata a doença. O grande médico trata o paciente que tem a doença.”
“Ouça o seu paciente. Ele está lhe dizendo o diagnóstico.”
“por descartar o estudo das humanidades, o que tem sido generalizado, a profissão perde uma qualidade muito preciosa.”
“Em nenhuma outra profissão é tão importante a cultura como na medicina e nenhum médico necessita tanto dela como o clínico geral.”
“Um médico que trata a si mesmo tem um tolo por paciente.”
“É surpreendente como com pouco estudo um médico pode praticar a medicina, mas não é surpreendente o mal que pode fazer.”
“O vício mortal do jovem médico é a preguiça intelectual.”
“É mais fácil comprar livros que lê-los e é mais fácil lê-los que absorvê-los”
“O primeiro passo para o êxito em qualquer ocupação é estar interessado nela.”
“Ao fazer a história, siga cada linha de pensamento, não faça perguntas diretas, nunca sugira. Cite as próprias palavras do paciente sobre o sintoma.”
“Sempre anote e registre o unusual. Guarde e compare suas observações. Comunique ou publique notas breves sobre o que é chamativo ou novo.”
“As aulas teóricas supérfluas causam bursite isquiática.”
“A fisionomia da doença se aprende lentamente.”
“As fibras de senso comum raramente são mielinizadas antes dos quarenta anos e nunca vistas, mesmo com um microscópio, antes dos vinte.”
“Um dos primeiros deveres do médico é educar as massas para que não tomem medicamentos.”
“A humanidade tem apenas três grandes inimigos: febre, fome e guerra. Desses, o mais terrível é a febre.”
“Quem estuda medicina sem livros navega por mar desconhecido, mas que estuda medicina sem pacientes nem vai ao mar.”
“As filosofias de uma época se tornaram os absurdos da seguinte e a tolice de ontem se torna a sabedoria de amanhã.”
“Na ciência, o crédito vai para o homem que convence o mundo, não para o homem a quem a ideia ocorreu pela primeira vez.”
“O médico que conhece a sífilis, conhece a medicina.”
“As varizes são resultado de uma seleção inadequada dos avós.”
“Nada irá sustentá-lo mais fortemente do que o poder de reconhecer na sua rotina monótona, a verdadeira poesia da vida – a poesia do lugar comum, da pessoa comum, simples, cansada da lida, com seus amores e suas alegrias, suas dores e tristezas.”
William Osler era compenetrado, comprometido com os pacientes e com os alunos, mas sua personalidade tinha também componentes de ironia, crítica ferina, que você pode constatar nesse outro post, clicando aqui.
Referências
1. Buzzi, A. Los aforismos de William Osler. Revista de la Aociación Medica Argentina. 2011, Vol. 124, 2.
2. Partin, C. The Oslerian legacy in the Southern states. Proc (Bayl Univ Med Cent). 2;32(4):538-543., 2019.
3. Cushing, H. A vida de Sir William Osler. Hamburgo : Severus Verlag, 2010.
4. Golden, R L. William Osler, Urolithiasis, and God’s Own Medicine. Urology. 2009, pp. 517-521.
5. Golden, RL e Roland, CG. Sir William Osler: An Annotated Bibliography with Illustrations. San Francisco : Norman, 1988. Richard L. Golden,Charles G. Roland.
6. M, Bliss. William Osler: A Life in Medicine. Oxford : Oxford University Press, 1999.
7. Bean, WB.Osler, the Legend, the Man and the Influence. Canad. Med. Ass. J. 1966, vol. 95, pp. 1031-1037.
