Toulouse-Lautrec, a sífilis e a prostituição

 L’ Inspection médicale – 1894 
Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa foi um dos mais importantes pintores do final do século XIX e deixou uma vasta produção artística em pintura e litografia. A característica marcante de sua obra foi retratar o cotidiano das prostitutas, dos bordéis e cabarés, que ele conhecia bem e onde passava grande parte do seu tempo. 


Toulouse-Lautrec em fotografia de  1892.
 Sua baixa estatura era relacionada ao crescimento desproporcional dos membros inferiores em relação ao do corpo, atribuído a uma provável doença óssea congênita e a fraturas do fêmur de ambas as pernas na adolescência

Autocaricatura de Toulouse-Lautrec. 1882

No final do século XIX as doenças venéreas pela sua alta prevalência e falta de tratamentos realmente eficazes, eram um grave problema sanitário em todo o mundo. Era consenso nos diversos órgãos de saúde pública que a prostituição era a grande disseminadora dessas doenças. Para a prevenção do “mal venéreo” era considerado imperativo o controle da prostituição.




Na França, o pensamento era de que a prostituição era um “mal necessário”, não devia (nem seria possível) ser extinta. Deveria ser controlada, regulamentada. O modelo previa um controle policial e sanitário para as meretrizes, que deveriam exercer sua profissão em locais determinados, os bordéis, onde poderiam ser controladas, registradas e submetidas a exame médico para detecção precoce das doenças venéreas, particularmente da sífilis. As doentes eram recolhidas compulsoriamente para o tratamento em hospitais de venéreos. Um dos efeitos colaterais da regulamentação foi o crescimento da prostituição clandestina. Em 1841 havia 235 bordéis catalogados em Paris, número que caiu para 47 em 1903.  As prostitutas também sempre encontraram maneiras de burlar a inspeção médica, que era o ponto fundamental do programa de prevenção.



Toulouse-Lautrec conseguiu captar o momento da inspeção médica das prostitutas com extrema sensibilidade e expressão como se pode ver na primeira imagem deste post. Ele próprio acabou vitimado pela sífilis, como seus contemporâneos Van Gogh e Gauguin.

retrato de Van Gogh por Toulouse-Lautrec em 1884.
 VanGogh estava sob o efeito do absinto
quando decepou a própria orelha.
Há quem diga que foi Henri quem o apresentou à bebida



Além da sífilis e da contemporaneidade, esses três grandes artistas tiveram em comum o talento, a convivência e o gosto pelo absinto. É atribuída a Henri a invenção do coquetel Tremblement de Terre (o Terremoto), feito com partes iguais de absinto e conhaque. O alcoolismo acompanhou o artista durante boa parte de sua vida.

Henri de Toulouse-Lautrec morreu em 1901, aos 36 anos de idade.

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem 6 comentários

  1. Unknown

    Poxa Neto, fui lendo achando que tinha mais coisas, deixou com gostinho de quero mais. Poder saber um pouco mais da vida de Lautrec é sempre fascinante!

  2. Anônimo

    Gostei das informações sobre Toulouse-Lautrec. Sou admiradora desse grande pintor.
    Sonia.

  3. Olá Helô, obrigado. Há alguma coisa transcendental nesses artistas.

  4. Obrigado, Branco. Os temas da prostituição e da arte na medicina são fascinantes para mim.

  5. Helo

    Gostei da aula e das pinturas. Adoro Toulouse-Lautrec.

  6. Elizeu

    Neto, mais uma aula. E das boas. Obrigado por compartilhar conosco seus conhecimentos adquiridos com esmero e dedicação. E por desviar nossa atenção das notícias quotidianas, lamentáveis. Abraço. Branco.

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