O surgimento da seringa hipodérmica

A invenção da seringa hipodérmica, uma das representações mais recorrentes da medicina, ocorreu apenas em meados do século XIX. O pioneirismo neste tipo de aparato para tratamentos parenterais cabe a Francis Rynd, um médico irlandês que, em 1844 criou um dispositivo construído em aço e marfim, composto por uma cânula, que terminava por uma agulha oca e um trocater. Uma vez inserido na pele, o trocater era retirado e a medicação colocada na cânula. A grande contribuição de Rynd foi a agulha oca que permitia a passagem das substâncias.

O aparato de Rynd
O aparato de Rynd

Em 1853, Charles Gabriel Pravaz, cirurgião ortopédico francês inventou uma seringa mais prática, de metal, com êmbolo, que era operado por um sistema de parafusos, que permitiam o controle do volume da substância a ser injetada. A agulha oca era afixada na extremidade da seringa.

A seringa de Pravaz
A seringa de Pravaz

Quase que concomitantemente o escocês Alexander Wood desenvolveu um aparato semelhante ao de Pravaz, com corpo e embolo de vidro que era operado empurrando ou puxando o êmbolo dentro do cilindro. Em quatro ou cinco anos, vários melhoramentos foram introduzidos, especialmente na Inglaterra e na França.

Seringa de wood
A seringa de Wood 

Em uma época em que era excepcional a administração de medicamentos por via parenteral, Rynd utilizou seu aparato na tentativa de tratamento de neuralgias, empregando opiáceos e morfina por via subcutânea. Pravaz, por sua vez, testou sua seringa em ovelhas e cavalos, injetando agentes coagulantes como percloreto de ferro intravenosamente, imaginando a possibilidade de tratamento de aneurismas. Wood também utilizava sua seringa para injetar opiáceos (recomendava morfina diluída em vinho xerez) nos pontos dolorosos.

Logo a novidade foi incorporada ao arsenal terapêutico dos médicos brasileiros. Numa publicação dos Annaes Brasilienses de Medicina de 1873, o Dr. Carlos Eboli, relata que a injeção de solução de morfina no tecido celular subcutâneo com a seringa de Pravaz faz “cessar instantaneamente qualquer dor nevrálgica a mais violenta.” O Dr. José Maria Teixeira relatou experiências que fez, utilizando injeções hipodérmicas de Permanganato de Potássio em casos de febre amarela em 10 pacientes, dos quais quatro faleceram.

Seringa
Aparato de 1866, que tinha a “vantagem” de poder aplicar vacina  a várias pessoas sem necessidade de abastecer o reservatório

A ministração de medicamentos com a utilização de seringas hipodérmicas era feita exclusivamente pelos médicos. Entre os cuidados no uso das seringas, o Dr. Figueira, da Academia de Medicina de Lisboa, lembrava que “acabada a injeção se deve lavar a agulha, fazendo passar a agua três a quatro vezes através d’ella, soprando-a depois, e finalmente introduzindo ao longo do seu orifício um dos fios de prata extremamente finos, que sempre acompanham estes instrumentos”.

Referências

1. Mogey, GA. Centenary of Hypodermic Injection. Br Med J. Nov 28, 1953; 2(4847): 1180–1185. 
2. Eboli, Carlos. Hydroterapia. Annaes Brasilienses de Medicina. 1873.
3. Figueira, CM. As injeccões subcutaneas. Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa Volume 4. Lisboa : Tipographia da Academia, 1867.
4. Teixeira, JM. O permanganato de potassio na febre amarela. Annaes Brasilienses de Medicina. 3, 1884.
5. Smith, Stephen. Hand-book of Surgical Operations. New York : Bailliere Brothers, 1862.

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem 2 comentários

  1. Anônimo

    Muito obrigado por suas pesquisas,
    Parabéns

  2. Anônimo

    MUITO BOA pesquisa e resumo!

Deixe seu comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.