O Reveillon no CREB

Fachada do CREB (década de 80)
Acervo Julio Martinez Parra

De volta à Bálsamo dos anos 60/70, nessa formidável máquina do tempo que é a imaginação. O pouso é no baile de Reveillon, do Clube Recreativo e Esportivo Balsamense, que era, na época, mais conhecido como o “Clube”, simplesmente.

Ata da fundação do CREB
Acervo- Julio Martinez Parra

Embora na década de 60 do século passado o CREB fosse muito novo (foi fundado em março de 1957), a festa do Reveillon era um evento tradicional e era promovido sem falhas todos os anos. A passagem do ano no Clube era programa obrigatório. E tinha algumas particularidades que os jovens da minha geração hão de se lembrar. No dia 31 de dezembro, a gente costumava chegar mais cedo ao clube, enquanto o conjunto, ainda estava afinando os instrumentos.
O salão tinha uma pista de dança ovalada, rebaixada, piso de tábua corrida, bonito.  As mesas, em torno de 60, eram dispostas em volta da pista, em duas fileiras. Eram vendidas antecipadamente e davam direito a quatro lugares. O conjunto se instalava numa espécie de palco que ficava do lado esquerdo de quem entra, no fundo do salão.

O baile do Reveillon começava como um baile comum. Quando o conjunto iniciava uma seleção, os rapazes, com um terrível medo da tábua, atravessavam o salão e iam tirar uma moça para dançar. As garotas ficavam geralmente sentadas nas mesas que os pais haviam comprado, esperando serem tiradas. Acabada a seleção, os rapazes levavam as moças às suas mesas e ficavam esperando nova seleção para tirar outra moça. Ou a mesma, se o clima permitisse.

Até às 23:59:50 hs era assim: baladas, boleros, medo de tábua, flertes, medo de chegar na moça. À meia noite em ponto, após a contagem regressiva, as pessoas se cumprimentavam, as famílias (que também iam ao baile) se confraternizavam e se desejavam um ano bom.
A primeira seleção do dia primeiro de janeiro já era de marchinhas de carnaval e assim ia até às quatro da manhã. O cerimonial do baile convencional acabava e começava a folia, como que se as pessoas esperassem que aquela alegria fosse a constante do novo ano. Todos dançando (talvez o termo correto seja mesmo pulando) em volta do salão. Não bastava dançar, era obrigatório que todos cantassem e a plenos pulmões as simplórias e deliciosas marchinhas. Nos intervalos, calor infernal, era bom respirar lá fora, tentar descobrir o resultado da corrida de São Silvestre e voltar pro salão para brincar o carnaval. Brincar é mesmo a melhor expressão.

Baixaria no Clube? Muito raro.

Glossário dos anos 60 (para os mais jovens)

Conjunto– Denominação das bandas da época. Conjunto musical. Formados por guitarra, baixo, bateria, e instrumentos de sopro: piston, saxofone. Em Bálsamo, tocavam muito os Bossambrasas, conjunto de Tanabi, o conjunto do Quêro, de José Bonifácio. No Carnaval, o conjunto do Casadinho e do Cido Naliati era o mais frequente. 

Seleção: músicas para dançar executadas por cerca de 20 minutos, geralmente de um gênero só: bossa-nova, samba, yê-yê-yê, balada, bolero, seguida por pequeno intervalo de 5 minutos. Às duas da manhã, uma parada maior, de 20 minutos. Nos bailes convencionais, a última seleção era sempre de boleros. Cielito lindo fechava o baile.

Yê-yê-yê– quem não viveu, não sabe o que perdeu. 

Tábua– recusa da moça ao pedido de dança. Suprema humilhação.

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem um comentário

  1. neto geraldes

    Lurdinha Geraldes lembra que Antonio Monteiro, de Tanabi, já falecido, era o líder do Bossambrasas. Monteirinho atuava em cadeiras de rodas, (havia ficado paraplégico num acidente) e era excelente músico.

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