O infantil do Bálsamo

Infantil do Bálsamo FC. 1965 Acervo pessoal Roberto P.Machado.
Reencontrei-me, graças ao Facebook, há poucas semanas com um grande amigo da juventude em Bálsamo, o Roberto Pinheiro Machado, que morou menos de 10 anos na cidade, mas continua sendo um grande balsamense.  Robertinho me mandou essa preciosidade de fotografia em que mostra uma das formações do time infantil da cidade em 1965. 
Da esquerda para a direita estão: Em pé: João Munhoz, Espanhol, Rubens Ingraci, Adé, Alberto, Dito Vieira, Assis, Julinho e Julio Geraldes. Agachados: Robertinho, João Negrinho, João Tolim, Lúcio e Bita.
Um dos mascotes acho que é o Tonho do Tolim e o outro, o Mané da Ninfa jura que é o Chicão do Zico Constâncio. 
Nos anos 60 do século passado era comum que todas as pequenas cidades tivessem seu time de futebol. O Bálsamo F.C. era exclusivamente amador, quase só disputava amistosos. Aqui e ali um raro torneio. Sempre teve bons times, conseguia bons resultados em jogos contra equipes das cidades da região.
Mas quem fez mesmo sucesso na década de 60 foi um time de futebol infanto-juvenil da cidade, com garotos na faixa de 13 a 15 anos, que permaneceu invicto por mais de 50 jogos. Só vitórias.  Pena que não ficou registro de suas façanhas e tenhamos que nos valer só da memória. Estou me dando conta agora que a equipe não tinha nome. Era apenas “O Infantil”,
Era um time de toque de bola: domina, olha e toca. Sempre alguém livre para receber. Nenhum chutão. Nenhuma pancada. A bola chegando onde tinha que chegar. Lançamento quando tinha que lançar, toque quando tinha que tocar. Drible quando tinha que driblar. Na medida certa. O treinador era o João Munhoz, ele próprio um dos craques da cidade. Guardando as proporções, o Infantil era como o Barcelona de hoje, com a diferença de que, às vezes, o Barcelona é derrotado.
Os treinos eram às quartas-feiras. Só coletivo. O preparo físico era mantido nas peladas do resto da semana. Um jogo de camisas, só. Branco de golas azuis, acho. Quando as camisas começavam a ficar puídas, estreava-se um conjunto novo, que podia ser de outra cor. Dependia do doador.  As camisas eram lavadas pela D. Maria, lavadeira de profissão, que morava numa casinha no fundo do campo, atrás do gol do lado da prefeitura, e onde a gente ia tomar água do poço nos intervalos dos treinos e depois das peladas diárias.
Acervo pessoal Roberto Pinheiro Machado
O Infantil ganhou fama na região. Merecida. Nos jogos em Bálsamo, mesmo com venda de ingressos a preço do jogo do time adulto, o estádio enchia. O campo ficava bonito, dava gosto de ver. Lembro de um jogo contra o Tanabi, que uma rádio de Rio Preto veio transmitir o jogo. O Vadão foi o locutor. O adversário era um time muito forte e organizado, chegou a causar preocupação no começo do jogo. Mas foi outro baile. 
Choviam convites para jogar nas cidades da região que faziam questão de tentar quebrar a invencibilidade do Infantil balsamense. Frequentemente os adversários escalavam jogadores bem mais velhos e corpulentos e mesmo assim e mesmo com a parcialidade dos árbitros locais, a vitória era certa. Torcedores de Bálsamo acompanhavam o time nos jogos fora. Quando a delegação chegava de volta, nas carrocerias dos caminhões ou em caronas dos automóveis particulares, muita gente se aglomerava ali em frente ao Fecha Nunca para saber as notícias do jogo.
 Nos domingos à noite, o assunto nos bares, no Jardim, era a performance da tarde, os detalhes das jogadas, a categoria dos atletas.  A cidade se orgulhava do Infantil.
A invencibilidade da equipe durou 2 anos e mais de 50 partidas. A triste derrota foi para o Mirassol, por 2 a 1, num jogo naquela cidade, contra uma equipe com estrutura profissional, mais para juvenil que infantil, e ainda assim com um gol de legalidade duvidosa. Outro amigo que hoje mora em Florianópolis e que reencontrei graças à Internet, o Merão ( Homeres Rezende), o grande quarto-zagueiro daquele time, (que não está na foto) lembra bem daquele dia e jura que, no segundo gol do Mirassol, ele sofreu falta do Bergamin. 
Depois desse jogo, o time jogou mais umas 4 ou 5 partidas, continuou sem perder, mas a equipe foi desfeita. Logo os jogadores passaram a treinar com o time adulto do Bálsamo FC, mas já não era a mesma coisa.
Tinha muita gente boa naquele time, mas na minha opinião, dois jogadores eram grandes craques e teriam feito sucesso em qualquer grande time:  Adé e Bita. Como disse o Merão, “Era outro tempo, mas quem viu o Bita jogar, não precisa admirar o Messi. Sem exagero. “
Infelizmente nunca saberemos se é exagero, mas que o Bita era um fenômeno, era. Só que isso é assunto para um outro post.

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem 9 comentários

  1. O Adé era fera! Um domínio de bola impressionante. Ele e o Bita foram os melhores jogadores da terra, dos que me lembro. Dê um abraço nele.

  2. Adevalter

    Gostei muito dessa matéria meu pai é o Adé, bom de bola hein. Já fui em muitos jogos com ele. Dos jogos que fui junto com meu pai lembro algumas pessoas do time adulto que jogava junto com ele do time infantil Espanhol, Julio Geraldes, João Negrinho, e o Bita. Foi emocionante ver essa matéria me fez lembrar de muitos jogos que fui junto com ele. Adevalter

  3. O Adé e o Bita foram realmente grandes, Felipe. Num próximo post quero falar mais sobre eles.

  4. Nossa muito legal!! o Adé é meu padrinho.. fico muito feliz de ler essas historias de futebol!! Ele me fala muito dessa epoca, meu pai, realmente dizia a mesmo coisa sobre Ade e bita!! Arrepiante!!

  5. Eu acho que essa camisa de que você falou, com faixas transversais, é uma camisa do SPFC, que foi do primeiro dente-de-leite, do tempo do Grupo Escolar. Era de antes do tempo do Seu Paulo. Neste post, eu fiquei em dúvida se colocava a foto do time ou o cartaz como destaque. As duas são ótimas, obrigado por ter compartilhado.

  6. Robertinho

    Linda lembrança, Neto. Era muito bom, mesmo. Tínhamos orgulho de dizer que jogávamos para esse time. Tenho muito orgulho de Bálsamo. Apesar de ser de Ribeirão, todos os meus amigos atuais acabam achando que nasci em uma cidadezinha de menos de 5 mil habitantes (naquela época)de tanto que falo dela.
    Como você bem lembrou, éramos muito bem treinados e lembro-me ainda das palavras do João Munhoz antes dos jogos : " Pessoal, se eles fizerem um gol, continuaremos com o mesmo toque de bola. Não precisamos nos afobar. Vamos ganhar, sempre". E era com esse o espírito que íamos ganhando todas as partidas. O Julinho saia jogando sem chutão o que era novidade naquela época em que o goleiro dava um balão lá para a frente. A camisa era branca com a gola preta. No início, quando o Seu Paulo Eletricista começou o infantil, a camisa era branca com duas faixas transversais pretas. Talvez eu até tenha alguma foto dessas. Bons tempos, ótimas lembranças!

  7. O infantil começou com o pessoal na faixa de 13 anos.Quando o time acabou, acho que a idade média era de 15 anos, já era infanto-juvenil. Antes, o time já jogava junto desde o dente-de-leite, que era treinado pelo seu Paulo da Luz. O Bita e o Adé eram titulares do time adulto com 16 anos. O time do Mirassol que ganhou o jogo era juvenil, maiores, mais fortes, e bem treinados.

  8. Branco

    Eita Mirassol, tradição em quebrar paradigmas! E, vamos pensar um pouco, depois de dois anos os meninos já tinham crescido né? Ou ainda estavam no infantil?
    Posteriormente, vi o Adé e o Bita jogando pelo time principal. O Kin jogava pelo Bálsamo e me levava para assistir os jogos.

Deixe seu comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.