O “footing” no Jardim de Bálsamo

Revi recentemente o filme “Grease” (Nos tempos da brilhantinha) : John Travolta e a (muito) bonita Olivia Newton-John, música dos Bee Gees, lembram? Logo depois revi “Nos embalos de sábado à noite”. Anos 70, juventude americana. Aí foi inevitável uma nova viagem para a Bálsamo dos anos 60 para me lembrar o que fazia um jovem balsamense nos sábados à noite.
Nessa viagem da imaginação desembarquei direto no Jardim, às sete e meia da noite. Num sábado!  À essa hora, no passeio da praça já tem bastante gente. Minha turma está reunida jogando conversa fora num banco do passeio interno, naquele canto que corresponde à esquina da Rua Rio de Janeiro com a Avenida Brasil. O footing está começando.

Footing? Não usávamos esse termo. Em Mirassol era footing e era na rua. Em Bálsamo, não. Era andar no Jardim. Muito mais bonito. “Jardim” já é mais bonito que praça.
O, vá lá, footing, era uma atividade social regular do fim de semana. Era tradicional, certamente desde os anos 50, provavelmente antes disso. Muita gente ia ali para conversar, encontrar as pessoas e paquerar. Os homens caminhavam no passeio da praça em pequenos grupos no sentido horário e as moças em grupos mais organizados, geralmente de braços dados, com as passadas bem sincronizadinhas, andavam no sentido anti-horário. O formato circular do passeio permitia que cada grupo de rapazes encontrasse o das moças duas vezes em cada volta. Era fácil saber quem estava paquerando quem. No grupo das meninas, quando cruzavam com o de rapazes, todas elas, menos a pretendida, olhavam, segurando o riso, para o pretendente para ver a reação dele. Assim que passavam, rompia-se o silêncio e ouviam-se os risinhos das meninas e as gozações dos rapazes no paquerador. 
Os meninos andavam com um pente Flamengo no bolso traseiro da calça e os da frente cheio de balas Chita, Toffee, Dea, 7 Belo ou Pipper para oferecer às meninas, quando criavam coragem para falar com elas. As balas, além de provocar cáries, serviam para quebrar o gelo e iniciar a conversa.  Isso tudo embalado pelas músicas que a Rádio Propaganda Balsamense irradiava, muitas vezes um “oferecimento musical” apaixonado e secreto. 
Um ritual era sempre cumprido: todo mundo fazia o sinal da Cruz quando passava em frente à Igreja Matriz, ou seja, duas vezes por volta. Cem vezes por noite. Era instintivo. Ainda hoje quando passo em frente à Igreja, me vem a lembrança do sinal da Cruz.
O sábado era também dia de cinema. Com alguma frequência, o Cine São José exibia antes do filme principal,  um “seriado”, um curta-metragem em capítulos, em que o mocinho sempre ficava em maus lençóis no fim e se safava na semana seguinte.  O apagar das luzes era o sinal para que vários adolescentes se levantassem e fossem se sentar junto das namoradas que estavam “guardando” o lugar a seu lado.

Ao final da sessão, mais umas voltas no Jardim e tomar sorvete de massa, ou quem sabe uma vaca preta na sorveteria do seu Ríssoli. As meninas já estavam em casa e terminávamos a noite como começamos, jogando conversa fora num banco do Jardim. 
Isso quando não tinha baile no Clube Recreativo e Esportivo Balsamense. Mas aí já é outra história.

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem 20 comentários

  1. Robertinho

    Muito legal reler essa passagem,Neto. Obrigado. Abs

  2. Manédaninfa

    Olá Delei…por faor,faça contato comigo, foi muito bom ter notícia sua…e-mail manusilva2008@gmail.com facebook EglermanuelSilva…..moro em Brasília, estou sempre em Bálsamo,tenho bastante amizade com Zé Aroldo,Zé Alvaro,.Cará,Tania de Paula, Lurdinha Geraldes…Infelizmente a Eliza, a Noilda Torcani e o Adalberto já faleceram…Faça contato comigo…forte abraço do manédaninfa

  3. Anônimo

    Ola Neto , nasci em Balsamo e morei até janeiro de 1968 , com 13 anos mudei para São Carlos e aqui estou .
    Alguns amigos : Mané da Ninfa , Zé Aroldo , Zé Alvaro , Cará , Eloiza ( filha do Nadir sapateiro ) Noilda Torcani
    Tania De Paula ( com 12 anos era linda ) e muitos outros isso é só o começo . Abç DELEI

  4. Lurdinha

    O Mané disse que é bem mais novo. Eu também, mas vivemos tudo isso também. E era muito bom. Quando brigávamos com o namorado, curtíamos nossa fossa ouvindo Roberto Carlos no footing. A fossa era passageira. Hoje está difícil. Beijo, irmão

  5. Não sei se o nosso tempo era melhor, mas que era muito bom,isso era. Que bom que você passou por aqui, Sérgio.

  6. Anônimo

    Ô Neto nós vivemos um tempo maravilhoso…o contato entre as pessoas era real….nós somos caipiras sim, com muito orgulho….fizemos muito "footing"…muitas amizades vivemos muitos sonhos…Nas cidades do interior de São Paulo, onde passei a infância e a adolescêcia todas eram assim….vivi em várias….Sérgio

  7. Robertinho

    Olha o Mané da Ninfa por aí….por onde anda o Joaquim????????? A Maria José?

  8. sonia mara

    Oi Neto, Muito legal!Relembrar essa época… Bateu uma saudade…! Muito bom. Gostei! beijo.

  9. manédaninfa

    Parabéns por mais um texto maravilhoso…tenho tudo guardado na memória e no coração…bons tempos…a minha turma era um pouquinho mais nova…como foi bom ter vocês como referencia..abraço manédaninfa

  10. Egler

    Como é bom relembrar tudo isso..(Egler)

  11. Olá Edna, obrigado por ver o blog. Você é muito mais nova,mas que bom que viveu essa época

  12. Edna Maria Rabelo Rodrigues

    Dr. Neto, em Paracatu era parecido. Era na rua Goias, no centro da cidade. Os rapazes ficavam parados em grupos e as mocas andavam de bracos dados ao longo da rua. Iam ate o final e voltavam, de vez em quando davam uma paradinha e recomecavam. A paquera rolava solta! Muito legal! Abracos.

  13. Rui,acho que fomos abençoados por viver nossa infância e adolescência numa cidade assim.

  14. Olá Robertinho. Temos mesmo muitas histórias pra lembrar. Acho que durante a semana só passava filme na quarta feira. Segunda reprisava o filme de domingo. Cadeiras de madeira, banheiros ao lado da tela. Bálsamo era muito bom. Saudade também é história.

  15. Rui Tavares

    Neto, a sua descrição de um sábado a noite em Bálsamo poderia ser transferido para Guaraçaí, bastaria trocar os nomes. Vivi toda sua detalhada história (afinal é verdadeira) e revivi lendo. Abraços

  16. Roberto

    Fantástico, Neto. Belas memórias. A gente chamava de "futim", mesmo. Terça-feira, no cinema, tinha a Sessão das Moças, lembra-se? Na segunda-feira, se o filme do domingo era muito bom, repetia. Normalmente filmes do Miguel Acevez Mejia ou do Mazzaropi. E o Serviço de Auto-falantes Balsamense era o máximo. A Copa de 1966 foi transmitido por lá com um radinho encostado no microfone. As chamadas para os jogos de Domingo ficávamos esperando o Vadão falar nosso nome! Cara podemos fazer uma sessão de muitas páginas com essas estórias( ou histórias)….

  17. Branco

    Em Mirassol, na Praça Anísio José Moreira, na quadra em frente à igreja Matriz, era muito parecido o comportamento dos jovens dessa época.

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