Lembranças

Lendo o texto de Rui Tavares “A barriguda que pariu imaginação”, que vou publicar logo a seguir, veio logo a lembrança dos quintais da minha infância na pequena cidade e a reflexão sobre se nostalgia é história. Dessa reflexão, não sei porque, me veio à cabeça Charles Chaplin, assim, do nada. Lembrei-me não dos filmes, mas das músicas que nasceram da sua genialidade.

Ah! lembrei porque lembrei de Chaplin. A Rádio Propaganda Balsamense tocava muito a canção Luzes da Ribalta, uma versão de Moacyr Franco para a linda Eternally. Os menos moços se lembram
Vidas que se acabam a sorrir/ Luzes que se apagam, nada mais/ É sonhar em vão tentar aos outros iludir”

Então me lembrei de Smile, outra canção de Chaplin de emocionar. Lembram de Smile?

Smile though your heart is aching
Smile even though its breaking
When there are clouds in the sky, you’ll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
Youll see the sun come shining through, for you 


Aqui ela pode ser ouvida, cantada por outro gênio, Nat King Cole.




Braguinha fez uma versão para Smile, também bonita.
Sorri
Quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos, vazios
Sorri
Quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri
Quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados, doridos
Sorri
Vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Aí me lembrei de Mário Quintana, do poema Presença. Lembrava vagamente. Fui procurar no Google. E me emocionei outra vez.

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos…
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo…
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato…
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te”

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

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