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Roanico (à esquerda) e a turma das caixas de guerra e repique. Fotografia cedida por Homeres Dias Rezende (Merão) |
As fanfarras eram uma espécie de banda marcial, comuns no Estado de São Paulo na década de 1960. Muitas cidades da região tinham sua fanfarra, bancadas pela comunidade, pelas escolas, algumas até bem sofisticadas, que se apresentavam em desfiles, especialmente nas datas de comemorações cívicas. Nós, de Bálsamo, também tivemos a nossa. Simplezinha, mas estava sempre presente nos eventos, imponente, orgulhosa. E uma coisa é certa: só tivemos a nossa “furiosa” graças ao Roanico.
João Soler Rodrigues é um personagem marcante da história de Bálsamo. De temperamento alegre, falador, contador de estórias, onde chegava marcava presença. Passávamos horas no Jardim, em frente à loja do seu pai, ouvindo seus causos. O apelido vem de Juanito, Juanico, como era chamado por seu pai, o comerciante Juan Soler Flores, espanhol de nascimento e um dos pioneiros da cidade.
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Roanico, à direita com o pelotão das cornetas. Fotografia cedida por Isabel C. S. Menis Sazaki |
Com os instrumentos existentes no Grupo Escolar Modesto José Moreira, Roanico montou a banda, formada por alunos do Ginásio, de várias idades e tamanhos. Deve ter dado trabalho ensinar a cada um os segredos dos seus instrumentos: zabumbas, tambores, surdos, bumbos, caixas de guerra, caixinhas de repique e as cornetas. Os ensaios eram à noite, com a concentração nas imediações do Modesto. Quando finalmente os integrantes já contavam com uma certa coordenação e entrosamento, a banda saia ensaiando o desfile pelas ruas da cidade, atrapalhando o sossego de alguns, mas divertindo a maioria.
Quando finalmente chegava o dia do desfile, num 7 de setembro, no dia da cidade, ou outra data cívica, era uma festa! Às vezes tinha até baliza! Vestíamos nossa farda, a calça branca, uma espécie de bata acetinada azul, com uma faixa amarela e saíamos orgulhosos, executando nossas marchas militares, baseadas quase que só nos instrumentos de percussão. Roanico ia no meio da fanfarra, comandando a marcação com seu apito, orientando a mudança da batida, as pausas e a entrada das cornetas, que só tinham uma melodia.
Com o tempo, fomos dominando nossos instrumentos e inovando, alguns se arriscavam nos malabarismos, como o Julinho Martinez, que num desfile acertou uma senhora que se aproximara demais para vê-lo rodar as baquetas por cima da cabeça antes de percutir o enorme bumbo preso ao peito.
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Uma parada cívica dos anos 60. A fanfarra está ao fundo. Fotografia cedida por Julio Martinez Parra |
Certa feita, às vésperas de um desfile em Mirassolândia, onde haveria um concurso de fanfarras, num ensaio, o pessoal cansado começou a “dar relaxo”, como se dizia na época. Roanico tentava recompor a ordem: -“Cada elemento com seu instrumento”. A bagunça continuava. Roanico insistia: “Cada elemento no seu pelotão”. E nada. “Cada elemento no seu pelotão” repetia, sem sucesso. O Roanico ficando nervoso, se exasperando, até que naquela balbúrdia toda, jogando o apito no chão, ele gritou:
“-Cada elemento no seu pelotão e cada pelotão que vá pra puta que pariu”.
O palavrão pode não ter sido bem esse, mas saiu com a boca cheia, parecia um trovão. Com o susto, fez-se um silêncio de alguns segundos, seguido pelas gargalhadas gerais.
O ensaio acabou ali, quase que a fanfarra acaba também. No dia seguinte lá estávamos nós para novo ensaio e o Roanico de apito novo, como se nada tivesse acontecido. Ganhamos o concurso de Mirassolândia. É verdade, como lembrou o Merão, que éramos a única fanfarra a concorrer, mas ganhamos. E ganhamos também um sanduíche de mortadela e uma garrafinha de cotubaina quente para cada um, que provocaram um estrago na viagem de volta para Bálsamo, nas kombis abarrotadas.
(Pedi a vários amigos que me contassem essa história. A história do “cada um em seu pelotão”, foi lembrada pelo Homeres Rezende, Roberto Machado, Waldecir Pelissoni, Pedro Lima, Joaquim Silva, Arnaldo Honorato, Julio Martinez, em ocasiões diferentes. Ficou marcada na memória de todos.
Merão e Julinho se lembraram também do concurso em Mirassolândia.)
Olá Marilene, que bom! Há alguns dias encontramos a Sidney via internet. Criei um blog só pra falar da história de Bálsamo. O endereço é http://balsamohistoria.blogspot.com.br/.
Ola Neto, sou a Marilene, filha do Venerando Vinha (o Nato), que bom recordar os bons tempos de Bálsamo.
Que bom reencontrar amigos. Abços
Cara Lurdinha, como esquececer, vc era a baliza da minha fanafarra!
E um prazer reveencontrar voces , nesse site.
Sai de Balsamo com 15 anos no inico do "Ginasio"(alias recem inaugurado)
Hoje estou em Campinas SP
Nesse momento que escrevo a 240 km de Brasilia (Paracatu Mg)
Aquele abração a todos voces !
Não vão se esquecer , que eu hasteava a bandeira do Brasil , tocando uma unica corneta.
Abração a voces que fizeram parte de minha vida e eu das vossas,.
Nessa espoca tinha como diretor o Sr Rubens Ingrace e Dona Vilma.
Assim como o nosso amigo Ponce.
Aqui vos fala o Saul Bordignon Fantini.
Obrigado, Vera. Eu tenho escrito sobre a década de 1960 em Bálsamo porque tudo ali é história e é uma forma de contribuir para preservar a memória da nossa cidade. Mas escrevo também por causa da saudade daqueles tempos felizes.
Espero mais post.
Olá Neto, adoro seus post. Mato a saudade e tanto tempos bons. Tinha algumas fotos desse tempo. Vou ver se consigo algumas.
Como tem foto da turma das cornetas e das caixas, deve ter também uma fotografia do pelotão dos bumbos, zabumbas e tambores. Se alguém tiver essa fotografia e puder me mandar, agradeço muito.
Olá Zimbinho. Nesta formação de que participei, o pelotão das cornetas só tocava uma melodia. Havia o corneteiro principal que começava e os outros respondiam. Era daquelas cornetas sem pistão, nem sei como se tirava notas dali. obrigado pela visita ao blog.
E eu fui "baliza" (é assim que falávamos). passava pela fanfarra fazendo pirueta e malabares com dois bastões. era o máximo mesmo. Eu, a Maria Eliza e a Noilda Torcani. Tempo bom
Taí, adorei a lembrança. na década de 70, a fanfarra existia e tinha como "Corneteiro Mor" eu (Orozimbo), que tivemos o prazer de tocar parabéns na cidade de Neves Paulista para o governador que estava presente.
Pedi a vários amigos que me contassem essa história. A história do "cada um em seu pelotão", foi lembrada pelo Homeres Rezende, Roberto Machado, Waldecir Pelissoni, Pedro Lima, Joaquim Silva, Arnaldo Honorato, Julio Martinez, em ocasiões diferentes. Ficou marcada na memória de todos.
Merão e Julinho se lembraram também do concurso em Mirassolândia.