A turma Barra 70

A turma Barra 70, festa de 40 anos de formatura

Este post é uma homenagem à turma “Barra 70” da Faculdade de Medicina da UnB, da qual faço parte, com orgulho. A denominação barra 70 vem do fato de que na época, os números das matrículas dos estudantes da Universidade de Brasília eram seguidos por uma barra e pelo ano de ingresso. A minha matrícula, por exemplo, era 198/70.

Quando ingressamos no Curso de Medicina da UnB em 1970, éramos todos forasteiros e nem podia ser diferente, pois Brasília fora inaugurada apenas dez anos antes, embora já fosse uma cidade populosa, com mais de 500 mil habitantes, 236 mil deles morando no Plano Piloto.

O Minhocão em 1970 era mais ou
menos assim.

Na universidade, tudo era diferente. A começar pela imensidão do prédio do Instituto Central de Ciências, já chamado de Minhocão, com seus 780 metros de comprimento por 80 de largura, seus enormes estacionamentos e poucos carros. Imensos espaços vazios. Tínhamos nossas aulas nos laboratórios, salas e anfiteatros da ala Sul.

O sistema de ensino era inovador e baseado em conceitos ainda remanescentes da concepção original da UnB, de uma medicina integral, racional e moderna, visando a criação de uma consciência preventiva e voltada para os problemas de cada comunidade, inclusive nos seus aspectos sociais e familiares. Era o curso básico, ministrado pelo sistema de blocos. Cursávamos uma única disciplina durante o dia todo, por cinco ou seis semanas. Passávamos a maior parte do tempo nos nossos laboratórios, onde tínhamos aulas teóricas e práticas, com um microscópio para dois estudantes.

O anfiteatro

Estudávamos juntos na biblioteca ou nas próprias salas de aula. Nenhuma barreira. Entrávamos e saíamos a qualquer hora, madrugadas inclusive. Prova aos sábados. Terminada uma disciplina,
começávamos imediatamente outra. Alguns desses blocos foram ministrados durante as férias escolares, nos chamados “cursos de verão”, na mesma intensidade, o dia todo. As férias ficavam muito curtas. Se não nos gostássemos, seria terrível. Juntos fizemos longas viagens para pesquisas como a das condições sanitárias, ambientais, sociais da Vila Buritis. Juntos, nos politizamos em pleno AI5.
Vários de nós morávamos nas quadras da Asa Norte mais próximas, em pensões ou repúblicas, que eram comuns ali, e nos deslocávamos para a universidade a pé, pelo meio do cerrado.  Foi um convívio próximo, diário, contínuo, seis dias por semana, durante três anos. Sem contar as confraternizações dos domingos.

Depois, mais dois anos de curso prático, “profissionalizante” com atividades hospitalares na UISS (Unidade Integrada de Saúde de Sobradinho), outra experiência que poderia ser revolucionária. Um hospital integrado à sua comunidade e voltado para as necessidades dela. A convivência continuava. Só nos separamos mesmo no sexto ano, no internato.

Fomos uma turma especial, de pessoas especiais, numa UnB especial, que ainda carrega muitas marcas nossas. E cada um de nós deixou muitas marcas em cada um de nós.

Talvez isso ajude a entender a alegria e a emoção de todos na festa para comemorar os 40 anos da formatura que foi realizada de 30 de outubro a 01 de novembro de 2015 no Hotel Nacional em Brasília.

Ô saudade!

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem 13 comentários

  1. Grande Arnaldo. Foi um encontro inesquecível para mim. Ficou a certeza de que fomos (e somos) mesmo uma turma diferente. Obrigado por toda a alegria que você trouxe, você esteve ótimo. Só nos causou inveja por conta da sua juventude. Abraço barrasetentano

  2. Grande Neto, parabéns pelo post. Com sua grande capacidade de síntese, traduziu em poucas linhas toda a nossa trajetória acadêmica. As fotos nos remetem àqueles saudosos tempos. Mas, todas as fases de nossas vidas são maravilhosas e plenas de sentido e emoções, como a atual em que estagiamos: carreiras consolidadas, filhos já maduros e bem formados, netos desabrochando em seus potenciais, sensação do dever cumprido. E para completar a emoção desta fase, o inesquecível encontro no Hotel Nacional de Brasília. A amizade e o companheirismo não se arrefeceram com a distância ou o tempo. Consolidaram-se. Mal podemos esperar o próximo encontro, oxalá com a presença de todos os colegas barra setenta.
    Só nos resta agradecer a você, à Ana, ao Careca e a todos da comissão organizadora o empenho para que o encontro ocorresse de forma tão esplendorosa.
    Grande e fraternal abraço,
    Arnaldo

  3. Certamente todos saímos desse encontro melhores do que antes, Carlos Henrique. Saudações barrasetentanas.

  4. Unknown

    Foi um momento extremamente feliz. Não tenho palavras para descrever. Os meus amigos /70 são mais queridos do que eu imaginava antes.
    Vivemos uma época de grandes transformações de valores. Lutamos pela democracia, pela liberação dos costumes, proclamamos a paz como valor fundamental. E, antes de tudo, tínhamos coragem no presente e confiança no futuro.

  5. neto geraldes

    Foi pena você ter podido ir, Cupertino. Foi mesmo emocionante. Grande abraço

  6. neto geraldes

    Obrigado, Zouraide. Claro que me lembro de você. Essa amizade é mesmo difícil de explicar. Cultivar o afeto faz bem pra saúde, imagino.

  7. Unknown

    Neto, sou Zouraide/71, talvez nao se lembre de mim. Fiz várias amizades na sua turma, inclusive com o "maior" pediatra de Brasília (Ruizão), que cuidou carinhosamente de meus 3 mosqueteiros. Saiba que sua turma inspirou a minha (77/A), somos muito parecidos com vcs, una amizade que transcende o tempo. Parabéns aos quarentões!

  8. Jose Francisco Cupertino

    Neto : parabéns a todos que tornaram esta festa uma realidade. Impedido de ir nesta espero não perder a próxima.Sucesso total. Um abraço do Cupertino

  9. Jose Francisco Cupertino

    Parabenizo a todos os que tornaram esta festa possível e maravilhosa. A próxima não perderei.Um abraço a todos

  10. Unknown

    Neto : você traduziu em palavras o porquê da nossa emoção. Embora sob uma ditadura, vivemos intensamente tudo o que a vida nos ofereceu, inclusive o amor e cuidado uns pelos outros. E isto perdura até hoje. Um abraço!

  11. Obrigado, Rui. Você é minha referência desde aquela época.

  12. Rui Tavares

    Neto, você conseguiu transmitir toda nossa vivência e emoção de fazermos parte desta turma maravilhosa.

Deixe seu comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.