O Corpus Hipocraticum é um conjunto de livros que contém a essência da medicina grega dita hipocrática. Na verdade o Corpus Hipocraticum foi escrito por diversos autores entre os séculos V e IV a.C. Um dos seus tratados mais importantes, que foi escrito provavelmente por Polibo, um genro de Hipócrates, é Da Natureza do Homem, no qual pode ser encontrado um dos fundamentos da medicina hipocrática que é a teoria dos quatro humores.
Empédocles de Agrigento (490-435 aC) foi provavelmente quem organizou as bases da teoria dos quatro elementos fundamentais da natureza: ar, água, fogo e terra. A medicina hipocrática estabeleceu que os quatro elementos estariam respectivamente representados no corpo humano pelos humores sangue, fleugma, bilis amarela e bilis negra. Os humores e os elementos relacionavam-se também com outros esquemas quaternários: as qualidades quente, frio, seco e úmido e as quatros estações do ano. Assim, o sangue era quente e úmido, a bilis amarela quente e seca, a bilis negra fria e seca e a fleugma seria fria e úmida.
A saúde dependeria do equilíbrio (crasis) desses humores e de sua mistura no organismo. Da predominância ou da deficiência de pelo menos um deles (a discrasia) viriam os distúrbios da saúde e as doenças. Alcmeon, de Crotona, médico e filósofo, precursor de Hipócrates, com idéias correlacionadas à política, dizia que era necessário a isonomia dos humores para a manutenção da saúde. A predominância de um deles (a monarquia) era prejudicial.
Caberia ao médico manter a harmonia desses humores, restabelecer a eucrasia. A teoria dos quatro humores constituiu a base fisiopatológica do pensamento médico por longos séculos e foi ensinada nas escolas de medicina ocidentais até o século XIX, quando Rudolf Virchow apresentou a teoria celular em 1858. As sangrias, eméticos, purgativos, sudoríficos que foram empregados largamente até o século XIX visavam justamente à eliminação dos humores ruins para restabelecer o equilíbrio do corpo.
Do conceito dos humores derivam as expressões “bom humor”, “mal humorado” e as representações da personalidade: sanguíneo, fleugmático, colérico e melancólico.
Parabéns Neto! Adorei o texto! As ilustrações também são ótimas!