A consulta à distância de Albrecht Dürer

Albrecht Dürer, nascido em Nuremberg em 1471 é considerado um dos maiores artistas alemães do Renascimento e deixou uma vasta obra de desenhos, pinturas e gravações.

Num período não bem estabelecido, entre 1509 e 1521, Dürer fez essa pintura que hoje é conhecida como “O Dürer doente”, um auto-retrato, que teria desenhado para enviar a seu médico. No alto da figura ele escreveu: “Aí onde está a mancha amarela e onde o meu dedo está apontando, é aí que dói.”

O Dürer doente
O Dürer doente

Existem algumas hipóteses na tentativa de elucidar a época e a motivação da pintura. Alguns historiadores acham que é possível que ela tenha sido feita por volta de 1520. Nesse ano, Dürer fez uma viagem à Holanda e lá, conforme registrou posteriormente em seu diário, apresentou um quadro de febre alta, grande fraqueza, náuseas e dor de cabeça. A febre era recorrente e ele diz que gozava de boa saúde no período entre dois episódios febris. Historiadores especulam sobre o diagnóstico: malária, sífilis, tuberculose, doença mental, doença hepática ou esplênica e até envenenamento.

Auto-Retrato Albretch Durer
Auto-Retrato Albretch Durer, 1500.
O artista retratando-se em pose de Jesus?

Uma outra corrente acredita que a pintura que Dürer fez para mostrar o local da dor é de 1513 e a teoria é que ele quis representar sua própria melancolia. Na época, acreditava-se que a melancolia era causada por um excesso de bile negra, um dos quatro humores e estava ligada a alterações do baço, fígado e vesícula biliar e relacionados à influência de Saturno, um planeta doente, que provocava doenças. Na teoria hipocrático-galênica dos humores, o baço era considerado a fonte da bile negra e portanto da melancolia, e é o local para onde Durer parece apontar. Corroborando essa teoria, existem anotações do artista queixando-se de “inchaço no baço” nessa época.

Em 1514, Albrecht Dürer fez uma gravação em cobre, alegórico, que ele chamou de Melencolia I e que é um dos seus trabalhos mais icônicos.

Melencolia de Albretch Durer
Melencolia I Albretch Durer – 1514

O Melencolia I é uma gravação cheia de sinais e significados, misturando elementos geométricos, religiosos, representações das ciências, como alquimia, matemática, astronomia, possivelmente relacionados à ideia de busca do conhecimento. Vários objetos estão espalhados pelo cenário, que dão margem a muitas interpretações. A ligação da genialidade à melancolia é um conceito antigo, a figura alada poderia estar representando esse gênio melancólico. Enigmático também é o quadrado mágico, 4×4, em que a soma vertical, horizontal e diagonal é sempre 34. No quadrado, está gravado 15 14 na linha inferior.

Albrecht Dürer morreu em 06 de abril de 1528, aos 56 anos de idade.

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem 4 comentários

  1. Elizeu Misko Filho

    Sempre bom aprender um pouco com pessoas que estudam muito como você.
    Acho muito interessante os detalhes dos conhecimentos da época aplicados nos costumes e a evolução do conhecimento pela investigação.
    Abraço

  2. Anônimo

    Muito bom.
    Me impressionou o quadro Melancolia I. Os inúmeros símbolos que, se
    Iluminados sob os dias atuais podem ser substituídos por aqueles que na atualidade nos deixam angustiados e melancólicos. O artista nos traz diretamente ao século XXI pandêmico. Beijo

  3. Joyce

    Mto interessante! A criatividade usada pra comunicar os desconfortos…

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