A doença do amor na música brasileira: Zedantas

Zedantas fonte:Diario de Pernambuco

Francisco Lopez de Villalobos, medico espanhol publicou um influente livro em 1498, condensando o conhecimento médico de sua época. Nesse livro, o autor apresenta o “Mal de amores” como uma enfermidade, um tipo de loucura, que causa “corrupta imaginação e pensamentos bestiais”. Um post sobre Villalobos e o Mal de Amores pode ser visto clicando aqui. Era, na verdade uma doença masculina e a mulher era apenas a causa do mal, figura secundária. Três séculos e meio mais tarde, encontramos em Chernoviz, um médico polonês radicado no Brasil a mesma ideia de que o amor era uma doença: “os efeitos desta paixão são tanto mais aparentes quanto o amor é mais violento e mais desenvolvido. Os carateres de um amor excessivo são realmente comparáveis aos da monomania”.  Um post sobre Chernoviz e a doença do amor pode ser lido clicando aqui.

Zedantas e Luiz Gonzaga fonte: O Nordeste.com

Esse conceito medieval da ideia do amor como uma doença foi explorado poeticamente na música brasileira por alguns compositores, entre eles o grande José de Souza Dantas Filho, o Ze Dantas, ou como ele preferia, Zedantas. A ligação do compositor com a medicina era mais intensa, pois ele na verdade era médico, formado no Recife em 1949 e especializado em ginecologia e obstetrícia no Rio de Janeiro.

A canção “O xote das meninas”  foi um sucesso estrondoso quando lançada em 1953 e ainda hoje é uma das canções mais conhecidas da música brasileira. Reparem na letra, que também associa o amor uma enfermidade, evidentemente que aqui de maneira poética, a começar pela metáfora da florada do mandacaru. A canção é assinada também por Luiz Gonzaga, em cuja carreira Zedantas teve enorme influência.

Ouça o Xote das Meninas com Luiz Gonzaga

A flor do mandacaru, de efêmera duração. fonte: recantodasletras

O Xote das Meninas

Mandacaru quando “fulora” na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina que enjoa da boneca
É sinal que o amor já chegou no coração

Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar

De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando, sonhando acordada
O pai leva ao “dotô” a filha adoentada
Não come, nem estuda, não dorme, não quer nada

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar

Mas o “dotô” nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
Que pra tal menina
Não tem um só remédio em toda medicina

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar

As gravações de Luiz Gonzaga e de Ivon Curi são as mais conhecidas. Zedantas morreu em 1962, aos 41 anos de idade, provavelmente em consequência das elevadas doses de cortisona que tomava por conta de dores na coluna.

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

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