Paulo Vanzolini

Paulo Vanzolini morreu ontem a noite aos 89 anos. Era formado em medicina, mas sua atuação profissional foi sempre em zoologia, área em que tinha PhD pela Universidade de Harvard e destacada produção científica. Recebeu prêmios internacionais importantes pela sua atuação científica. Vários répteis, anfíbios, mamíferos, aracnídeos tiveram a espécie batizada como vanzolinii, em sua homenagem. Todavia, ele é mais conhecido por suas composições musicais.

Na minha opinião, nessa mania medieval de hierarquizar tudo, dentre os compositores populares brasileiros, Chico Buarque é o primeiro, Noel Rosa vem a seguir e Paulo Vanzolini está entre os terceiros.
São poucos os que não conhecem as músicas Ronda, que é um hino paulistano (“De noite eu rondo a cidade/ A lhe procurar”) e Volta por cima.  (“Reconhece a queda/E não desanima/ Levanta, sacode a poeira/ E dá a volta por cima”). Vanzolini dizia que todo mundo se lembra da volta por cima, mas o mais importante da letra é o “Reconhece a queda”. Entretanto existem muitas outras canções dele que são pouco conhecidas. A maioria cronicas do cotidiano, amores desfeitos, tratados com ironia, bom humor e extrema simplicidade. Sua música era um hobby. Compunha nas horas vagas, por puro prazer. Vale a pena ouvir Samba Erudito, Amor de trapo e farrapo, Napoleão, Leilão.

Quando viajava de carro, eu ouvia muito suas canções. Meus filhos quando estavam entediados nessas viagens, sempre pediam a “música do capeta”. Trata-se de Juízo Final. (ouçam abaixo cantada por Adauto Santos), canção genial em sua simplicidade.

No último dia da vida
Encontrei-me com os meus pecados
Uns maiores, outros menores
Mas no geral bem pesados
Do outro lado somente
A ingratidão que sofri
O anjo pôs na balança
E vestido de branco eu subi.
Agora só toco harpa
De camisola e sandália
Espio pra ver lá embaixo
A quadrilha da fornalha
Aquela ingrata hoje está
Trabalhando de salsicha
Espetadinha no garfo
Satanás fritando a bicha
Ô demônio: capricha!
Dor de cotovelo chorosa? Jamais: ouçam Praça Clóvis, cantada por Chico Buarque.

Na praça Clóvis 
Minha carteira foi batida 
Tinha vinte e cinco cruzeiros 
E o teu retrato 
Vinte e cinco 
Eu francamente achei barato 
Prá me livrarem 
Do meu atraso de vida 
Eu já devia 

Ter rasgado e não podia 
Esse retrato cujo olhar me maltratava e perseguia 
Um dia veio o lanceiro 
Naquele aperto de praça 
Vinte e cinco, francamente, foi de graça 

O cara era muito bom. Na verdade é. Sempre será.

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

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