Adé e Bita

Acervo Julio Martinez Parra (1966)
A fama que o Infantil Balsamense desfrutava na região era grande e merecida. Que o time era aquilo tudo ninguém duvidava. Clique aqui para ver porque. Mas certamente não seria tudo aquilo se não tivesse dois jogadores: o Adé e o Bita, que faziam um meio de campo espetacular. Desculpem o espetacular, mas é difícil arrumar uma qualificação melhor. A dúvida era sobre quem era o melhor: Adé ou Bita?
Adé era o apelido do Walderir, um volante clássico, que jogava de cabeça erguida. Desarmava com facilidade, nunca fazia faltas e armava as jogadas como se estivesse olhando de cima. Literalmente não olhava para a bola. Um domínio de bola e visão de jogo invejáveis. Dizia a lenda que todas as vezes que ele matava a bola no peito, o juiz tinha que marcar falta. A bola ficava grudada e ele tinha que tirar com a mão. Era a essência do domina e toca. O melhor toque, não o mais óbvio. A jogada mais simples e a mais objetiva.  Pedia licença para tomar a bola do adversário, que a entregava com reverência. Raramente um drible humilhante. Meu primo Piu Misko, que foi lateral esquerdo do Mirassol, (inventou o carrinho de dois tempos) lembrou que Adé, muito antes de Robinho, já fazia a pedalada. Vai pra lá, que eu vou pra cá. A jogada limpa.
Bita era o apelido de Edvaldo Pelissoni, filho do “Seu” Hugo Pelissoni e irmão do Nino, que não tinha um antebraço e havia sido um craque da cidade nos anos 50/60. Uma vez, vi o Nino ser carregado em triunfo pela torcida balsamense num jogo em que ele fez chover. Era um fenômeno.
Bita era para nós até melhor que o Nino. Quem o viu jogar, sabe que não estou exagerando. Num sistema 4-2-4, que era  forma que o Infantil jogava, Bita era o número 10, canhoto. Um meia mais avançado, grudava a bola nos pés. Muito rápido, um drible fácil e objetivo, driblava sabendo o que faria em seguida. Tinha um chute muito forte e sempre bem colocado. Comparando com os meias famosos da época, ele tinha a visão de jogo do Gerson, a agilidade do Rivelino. Exagero? Era assim que o víamos. Nas peladas diárias no fim de tarde no campo, havia uma convenção: quem ganhasse o par ou ímpar escolheria o Bita e o outro poderia escolher dois, para tentar equilibrar. E não equilibrava. Existem várias histórias dele. Meu irmão Joãozinho conta que certa vez, num jogo num jogo na fazenda do Cavalin,   irritado com as provocações do goleiro adversário, Bita literalmente derrubou o travessão com uma bolada. Tudo bem que era um campo de fazenda e a trave era rústica, mas que caiu, caiu. E ainda ficou mandando o goleirão consertar.

O tempo passou, o Infantil acabou. Com 16 anos, Adé e Bita eram titulares do time principal da cidade. Titulares e os principais jogadores, frequentemente requisitados para reforçar outras equipes de cidades vizinhas. Ainda juvenis, fizeram testes no Santos FC. Aquele do Pelé, na época do Pelé. Foram aprovados, mas não quiseram ficar. Jogaram profissionalmente em alguns times da região de Rio Preto, sempre bem.

Adé e Bita não viram o cavalo passar arreado. Eram melhores do que queriam ser.   

Neto Geraldes

Um novo historiador que gosta da medicina e um velho médico que gosta da história.

Este post tem 2 comentários

  1. Robertinho

    É isso mesmo. Quanta saudade desses dois! Além disso que você escreveu, com muita propriedade, eram pessoas maravilhosas. Muito amigos, um pouco tímidos e talvez isso tenha contribuído para que não tivessem tido carreiras brilhantes no futebol. O Bita morava pertinho de casa, na Rua São Paulo, e vivíamos sempre juntos. Uma família muito humilde composta de pessoas sérias, honestas (ele tinha uma irmã _ que creio estava em nossa classe no Ginásio _ e dois irmãos _ sendo o Nino, um deles). Apostávamos corrida na rua ( ele corria muito, também) com as filhas do Geromão e jogávamos muita queimada. Neto, dá uma saudade gostosa e é muito bom você lembrar de tudo isso. Muito obrigado.

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