11082016
Louis Pasteur- retrato de 1885 Museu D’ Orsay |
Até meados do século XIX as doenças infecciosas eram explicadas com base em complicadas teorias, que perduravam há mais de dois milênios e que relacionavam desequilíbrio dos humores com fatores ambientais. Havia a noção de contágio, mas não a de infecção.
O primeiro registro de uma proto-ideia relacionada ao conceito de infecção por microrganismos vem de Girolamo Fracastoro (1478-1553), médico renascentista, que, em 1546 publicou o livro De contagione et contagiosis morbis et eorum curatione (do contágio e das doenças contagiosas e seu tratamento), no qual define o conceito de moléstia contagiosa e propõe a existência dos seminaria contagiorum, sementes vivas, partículas que seriam capazes de provocar doenças. Fracastoro estabelece ao menos três possibilidades de infecção: por contato direto, por meio de fômites como roupas que transportariam os seminaria e pela inalação de ar contaminado.
Mesmo com a invenção do microscópio, da descoberta da célula e a percepção da existência de microrganismos, a ideia de que aqueles minúsculos seres fossem capazes de produzir doenças demorou a ser concebida. Alguns médicos chegaram perto disso, com base em estudos revolucionários para a época em que foram feitos.
Ignaz Semmelweiss, (1818-1865), austro-húngaro, em 1847, alarmado com a grande incidência de febre puerperal entre as parturientes do Hospital Geral de Viena, imaginou que existiriam “partículas cadavéricas” que seriam transportadas pelas mãos dos médicos e estudantes, que realizavam autópsias e em seguida atendiam as gestantes em trabalho de parto. A adoção de medidas como a obrigatoriedade de o médicos lavarem as mãos com uma solução clorada fez com que caísse radicalmente a incidência de febre puerperal. Mesmo assim, a teoria de Semmelweiss encontrou grande resistência entre os médicos de seu tempo, que continuavam acreditando que a doença se devesse a fatores inatos da paciente, ou ambientais. ( Outros posts sobre Semmelweiss podem ser lidos aqui e aqui).
A representação da cólera como veneno no ar |
Na mesma época, em 1849 John Snow (1813-1858), médico inglês, numa brilhante investigação epidemiológica também percebeu, ou intuiu, que deveria haver um fator, uma substância presente nas fezes de doentes de cólera que seria transmitida pela água e provocavam novos casos de cólera. Snow conseguiu demonstrar que a transmissão da cólera se fazia pela ingestão de água contaminada e não pelo contato com os miasmas, os maus cheiros, ares contaminados, explicação mais aceita na época.
Rudolph Virchow |
Rudolph Virchow (1821-1902), foi responsável por alguns notáveis avanços conceituais, estabelecendo em 1855 que todas as células são originárias de outras células e, num outro conceito fundamental publicado em 1858, mostrou que a causa das doenças estava nas células.
A constatação de que bactérias, fungos e outros micro-organismos eram a causa de muitas doenças finalmente veio à luz com os trabalhos de Louis Pasteur de 1865, quando descobriu que a doença dos bichos da seda chamada de pebrina era causada por parasitas microscópicos. Antes disso, Pasteur já havia demonstrado que a fermentação e a putrefação observadas na fabricação dos vinhos não era uma reação exclusivamente química, mas fruto da ação de bactérias e fungos. Pasteur demonstrou que os micro-organismos eram derivados de outros micro-organismos, sepultando, com muita resistência dos cientistas de sua época, a teoria da geração espontânea.
Em outro post falaremos sobre as pesquisas de Pasteur relacionadas às doenças infecciosas especialmente sobre o carbúnculo e à raiva.
Excelente!